“Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras’. Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou.
“Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras’. Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou.
Crescemos pensando que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos.
Por isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que «geme e sofre as dores do parto’ (Rm 8, 22). Esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra (cf. Gn 2, 7). O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua água vivifica-nos e restaura-nos”.
A carta, encíclica “Laudato Si”, começa com citações bíblicas registradas pelo apóstolo Paulo, e por Moisés, além do trecho de São Francisco de Assis, inspirador homônimo do papa, defensor da natureza, dos pobres e dos animais.

Na praça São Pedro, Papa Francisco num encontro com o bichinho que é o símbolo do Espírito Santo
No começo da carta, o papa relembra a atuação de seus antecessores na defesa do planeta, nossa casa. Em seguida, o convite:
“Lanço um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos a construir o futuro do planeta. Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental, que vivemos, e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós… Infelizmente, muitos esforços na busca de soluções concretas para a crise ambiental acabam, com frequência, frustrados não só pela recusa dos poderosos, mas também pelo desinteresse dos outros. As atitudes que dificultam os caminhos de solução, mesmo entre os crentes, vão da negação do problema à indiferença, à resignação acomodada ou à confiança cega nas soluções técnicas. Precisamos de nova solidariedade universal… Todos podemos colaborar, como instrumentos de Deus, no cuidado da criação, cada um a partir da sua cultura, experiência, iniciativas e capacidades.
Espero que esta carta encíclica, que se insere no magistério social da Igreja, nos ajude a reconhecer a grandeza, a urgência e a beleza do desafio que temos pela frente”.
Ao longo da carta o papa seleciona e ataca alguns pontos fundamentais para a compreensão do estado a que chegamos: poluição, consumismo, carbonização, privatização da água, perda de biodiversidade, extinção de espécies, degradação social, desigualdades, concentração da renda, tempo dedicado a telas e não ao amor.
Com tom moderador, cativante, porém firme e mesmo implacável que marcou suas declarações em favor da humanidade e da natureza, obra de Deus.
“Culpar o incremento demográfico em vez do consumismo exacerbado e seletivo de alguns é uma forma de não enfrentar os problemas. Pretende-se, assim, legitimar o modelo distributivo atual, no qual uma minoria se julga com o direito de consumir numa proporção que seria impossível generalizar, porque o planeta não poderia sequer conter os resíduos de tal consumo”.
Sempre à frente de seu tempo, precursor de uma igreja mais inclusiva e combativa, Francisco fala, ainda em 2015, da relação da ação humana a eventos climáticos, dando voz à ciência.
“Difícil não relacionar o aquecimento ainda com o aumento de acontecimentos meteorológicos extremos, embora não se possa atribuir uma causa cientificamente determinada a cada fenómeno particular. A humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de consumo, para combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem ou acentuam”.
Antes de entrar no universo cristão, no centro da relação entre Deus Criador e a Casa Comum – escrevendo para mais de um bilhão de católicos –, o papa para que ouçamos o gemido da Terra.
Destaca a fraqueza de reação dos governantes.
“Nunca maltratamos e ferimos a nossa casa comum como nos últimos dois séculos.
Mas somos chamados a tornar-nos os instrumentos de Deus Pai para que o nosso planeta seja o que Ele sonhou ao criá-lo e corresponda ao seu projecto de paz, beleza e plenitude.
O problema é que não dispomos ainda da cultura necessária para enfrentar esta crise e há necessidade de construir lideranças que tracem caminhos, procurando dar resposta às necessidades das gerações actuais, todos incluídos, sem prejudicar as gerações futuras.
Torna-se indispensável criar um sistema normativo que inclua limites invioláveis e assegure a protecção dos ecossistemas, antes que as novas formas de poder derivadas do paradigma tecno-económico acabem por arrasá-los não só com a política, mas também com a liberdade e a justiça.
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